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segunda-feira, 28 de maio de 2012

O PROFESSOR E AS NOVAS TECNOLOGIAS


Por Elaine Turk Faria


Na aurora do século XXI, necessitam os professores estar preparados para

interagir com uma geração mais atualizada e mais informada, porque os modernos

meios de comunicação, liderados pela Internet, permitem o acesso instantâneo à

informação e os alunos têm mais facilidade para buscar conhecimento por meio da

tecnologia colocada à sua disposição.

Os procedimentos didáticos, nesta nova realidade, devem privilegiar a

construção coletiva dos conhecimentos, mediados pela tecnologia, na qual o professor é

um partícipe pró-ativo que intermedia e orienta esta construção.

Trata-se de uma inovação pedagógica fundamentada no construtivismo

sociointeracionista que, com os recursos da informática, levará o educador a ter muito

mais oportunidade de compreender os processos mentais, os conceitos e as estratégias

utilizadas pelo aluno e

, com esse conhecimento, mediar e contribuir de maneira mais

efetiva nesse processo de construção do conhecimento, como sugere Valente, (1999,

p.22).

O papel do educador está em orientar e mediar as situações de aprendizagem

para que ocorra a comunidade de alunos e idéias, o compartilhamento e a aprendizagem

colaborativa para que aconteça a apropriação que vai do social ao individual, como

preconiza o ideário vygotskyano. O professor, pesquisando junto com os educandos,

problematiza e desafia-os, pelo uso da tecnologia, à qual os jovens modernos estão mais

habituados, surgindo mais facilmente a interatividade.

Nessa proposta pedagógica, torna-se cada vez menor a utilização do quadronegro,

do livro-texto e do professor conteúdista, enquanto aumenta a aplicação de novas

tecnologias. Elas se caracterizam pela interatividade, não-linearidade na aprendizagem

(é uma ‘teia’ de conhecimentos e um ensino em rede) e pela capacidade de simular

eventos do mundo social e imaginário. Não se trata, porém, de substituir o livro pelo

texto tecnológico, a fala do docente e os recursos tradicionais pelo fascínio das novas

tecnologias. Não se pode esquecer que os mais poderosos e autênticos "recursos" da

aprendizagem continuam sendo o professor e o aluno que, conjunta e dialeticamente,

poderão descobrir novos caminhos para a aquisição do saber.

O que é, realmente, importante frisar é a interação, a atuação participativa que é

necessária em qualquer tipo de aula com ou sem tecnologia. Essa interação é importante

para que o educando vivencie a negociação de significados que irá

iniciá-lo na

aprendizagem de uma prática social que será permanente na vida do cidadão do

próximo milênio: a construção da inteligência coletiva

(MELLO,1999, Internet).

Nesse contexto, centraliza-se o objetivo deste ensaio: refletir sobre o

papel/competências do professor, neste processo de mediar a interação, utilizando

recursos tecnológicos de maneira criativa, na busca da construção coletiva do


1

Capítulo publicado no livro: ENRICONE, Délcia (Org.). Ser Professor. 4 ed. Porto Alegre:

EDIPUCRS, 2004 (p. 57-72).


2

Doutora em Educação e Professora Titular da Faculdade de Educação da PUCRS.

conhecimento. Isto implica uma análise da mudança do paradigma educacional e da

função do professor na relação pedagógica, focalizando as inovações tecnológicas como

ferramentas para ampliar a interação.


Os recursos tecnológicos no processo de mudança


Sabemos que a educação precisa ser repensada e que é preciso buscar formas

alternativas para aumentar o entusiasmo do professor e o interesse do aluno. Qual o

papel da tecnologia nesse processo de mudança? A aplicação inteligente do computador

na educação é aquela que sugere mudanças na abordagem pedagógica, encaminhando os

sujeitos para atividades mais criativas, críticas e de construção conjunta.

Os recursos tecnológicos facilitam a passagem do modelo mecanicista para uma

educação sociointeracionista, ainda que a realização de um novo paradigma educacional

dependa do projeto político-pedagógico da instituição escolar, da maneira como o

professor sente a necessidade desta mudança e da forma como prepara o ambiente da

aula. É importante criar um ambiente de ensino e aprendizagem instigante, que

proporcione oportunidades para que seus alunos pesquisem e participem na

comunidade, com autonomia.

A interação implica processo de comunicação que não é linear (não se apresenta

como estímulo-resposta), mas representa uma comunicação em rede, (como um

rizoma,

conforme propõem Deleuze e Guattari, apud Kenski, 1998), um processo interativo com

alternância de papéis, conexão, heterogeneidade, multiplicidade. Assim, usar o

computador como um simples ‘quadro-negro’ ou um ‘clicar’ de páginas, não gera

motivação e nem explora todo o potencial deste recurso, além de não ser considerado

interativo, mas, sim, reativo. Como explica Primo, (1999) a interação é mútua quando

implica em negociação e é reativa quando se resume ao estímulo-resposta. O

computador é uma ‘ferramenta’ que intermedia a ação do professor e o aprender do

aluno, é um auxiliar, sempre disponível e muito útil quando bem utilizado.

É a partir da criteriosa escolha dos softwares educativos e da adequada utilização

da Web (com todas as suas funcionalidades, entre elas o hipertexto) que podemos

almejar maneiras de trabalho mais ousadas e até mais interativas. A simples

‘transmissão de conteúdos’ realizada através do computador e da Web não possibilita

espaço para que o aluno crie, aprenda, produza, torne-se cidadão do mundo. É

necessário que o aluno ‘ensine’ ao computador e por isso a seleção de softwares que

permitem essas atividades são

as linguagens de programação, como BASIC, Pascal,

LOGO; os softwares denominados de aplicativos, como dBase ou um processador de

texto; ou os softwares para construção de multimídia

(VALENTE, 1997, p. 20). Em

suma, a tecnologia facilita a transmissão da informação, mas o papel do professor

continua sendo fundamental na escolha e correta utilização da tecnologia, dos softwares

e seus aplicativos para auxiliar o aluno a resolver problemas e realizar tarefas que

exijam raciocínio e reflexão.

Diversos são os tipos de aplicativos que o professor pode escolher, dependendo

dos objetivos da disciplina, conteúdo, características dos educandos e proposta

pedagógica da escola. Cortelazzo (1999, p.22-23) apresenta uma classificação de

softwares em: software de informação (só transmite a informação), tutorial (ensina

procedimentos), de exercício e prática (exercícios de instrução programada), jogos

educacionais (jogos de cunho pedagógico), simulação (simulam situações da vida real),

solução de problemas (situações problemáticas para o aluno solucionar), utilitários

(executam tarefas pré-determinadas), software de autoria (programas específicos),

aplicativos (realizam uma tarefa com diversas operações); enfim, é grande a lista de

softwares e mídias que são simples exercícios de memória ou que auxiliam na

construção contínua do sujeito individual e coletivo

, mas, sobretudo colaborativo,

solidário e humano.

Planejar uma aula com recursos de multimeios exige preparo do ambiente

tecnológico, dos materiais que serão utilizados, dos conhecimentos prévios dos alunos

para manusear estes recursos, do domínio da tecnologia por parte do professor, além de

seleção e adequação dos recursos à clientela e aos objetivos propostos pela disciplina.

Para melhor avaliar os recursos computacionais a serem utilizados, sugere-se

alguns critérios de qualidade e avaliação dos softwares quanto aos resultados da

aprendizagem. Por exemplo, quanto tempo os alunos precisam para aprender os

comandos? Que tipo de atividade será realizada com o uso desse software? É possível o

trabalho de grupo? A interface permite o feedback com estratégias inteligentes e abertas

a informações com assistência e decisões dos usuários? O software proporciona o

desenvolvimento da autonomia do aluno, promovendo uma aprendizagem com graus de

dificuldade controlada pelo próprio usuário? (TORRES, 2000, p.39-40).

As aulas desenvolvidas por meio do computador, dos diferentes softwares e da

Internet poderão ser presenciais – com auxílio do professor ou de tutores – e a distância.

Não analisaremos a educação a distância como modalidade de ensino, mas gostaríamos

de ressaltar a importância da utilização dos recursos virtuais no ensino presencial,

quando em alguns momentos/etapas possa haver interatividade virtual, por meio do

correio eletrônico. Muitos professores já recebem trabalhos dos alunos virtualmente,

avaliam e enviam a avaliação por e-mail ou utilizam os recursos da Internet para

pesquisa. Um início de autonomia e independência acontece quando os alunos

trabalham nos computadores da escola sem a presença do professor e orientados por

tutores.

Na sala de aula o uso do computador melhorou a qualidade da apresentação das

lâminas do retroprojetor, através do aplicativo

PowerPoint, que tanto pode ser utilizado

para fazer lâminas para utilização no retroprojetor como para ser apresentado, de forma

mais dinâmica, com o uso da multimídia (data show, também conhecido como canhão).

No entanto, a tecnologia na sala de aula não se refere exclusivamente ao

computador. A TV e o vídeo também devem ser bem analisados e planejados para se

constituírem num recurso de enriquecimento e interatividade. A técnica do cine-fórum,

por exemplo, é uma forma de levar os alunos a refletir e dialogar sobre o tema do filme,

relacionando-o ao conteúdo da disciplina. Novamente, como na escolha dos softwares,

temos que ter critérios para a escolha do filme e um roteiro básico da aula com o uso do

vídeo. Os critérios para a escolha dos vídeos/filmes sugeridos por Torres (1998, p.32)

são os de

adequação ao assunto, aos alunos, simplicidade, precisão, facilidade de

manuseio, atratividade, validade e pertinência,

que também recomenda a utilização de

fichas e guias de avaliação dos filmes para orientar a discussão (p.35).

Podemos utilizar a televisão como recurso pedagógico e propor atividades

críticas, criativas e variadas a partir da programação da TV e de canais específicos

(como TV Escola, Canal Futura, TVE)

, discutindo os programas com os alunos, a fim

de analisar, por exemplo,

“os elementos da gramática audiovisual e compará-los à

gramática de outras linguagens, descobrindo como cada um destes elementos contribui

para construir a narrativa”

(FELDMAN, 1997, p. 20). A autora sugere, em seu artigo,

pontos para reflexão e sugestões de atividades, a fim de melhor aproveitar os recursos

existentes na comunidade, desenvolver o espírito crítico e participativo dos alunos,

levando o professor a estimular a curiosidade do aluno para buscar a informação mais

relevante, saber lidar com esta informação e não apenas consumi-la. Ao criar o

ambiente de aprendizagem, o professor coordena o processo de análise e crítica dos

dados apresentados, contextualiza-os, transformando a informação em conhecimento.

As tecnologias de comunicação estão provocando profundas mudanças em

nossas vidas, mas os professores não precisam ter “medo” de serem substituídos pela

tecnologia, como também não precisam concorrer com os aparelhos tecnológicos ou

com a mídia. Eles têm que unir esforços e utilizar aquilo que de melhor se apresenta

como recurso nas escolas e universidades. O educador precisa se apropriar desta

aparelhagem tecnológica para se lançar a novos desafios e reflexões sobre sua prática

docente e o processo de construção do conhecimento por parte do aluno.

Fala-se tanto na utilização dos recursos tecnológicos nas instituições

educacionais atualmente que parece novidade. No entanto, experiências educativas com

o uso da informática nas escolas e universidades brasileiras surgiram na década de

setenta, reforçadas nos anos oitenta e mais enfatizadas na década de noventa, com o

surgimento das novas tecnologias e do apelo da mídia eletrônica. O início do novo

milênio trouxe ainda maior ênfase para a utilização das tecnologias na educação, com

uma abrangência maior, surgindo a educação a distância, não só com o uso do

computador mas também de outros recursos, como a teleconferência e

videoconferência.

Estamos convictas da necessidade do professor não temer e, sim, dominar a

máquina e aproveitar o potencial da tecnologia em proveito de um ensino e uma

aprendizagem mais criativa, autônoma, colaborativa e interativa. Muitas pesquisas já

têm sido realizadas demonstrando a importância da informática nos cursos

universitários (GELLER, 1995) e alguns autores sugerem que a informática possibilita o

resgate do papel social e da cidadania, a partir da rápida e eficiente disseminação da

informação e do conhecimento na sociedade (LAMPERT, 2000, p.169).

Com o adequado emprego da tecnologia, o professor deverá ser o elemento

fundamental nesta mudança de mentalidade e atitude, inclusive com uma nova visão a

respeito do erro não mais como punição

, mas como oportunidade para aprender,

desenvolver a

autonomia e a flexibilização de um sistema rígido, centralizado e

controlador

(VALENTE, 1997, p. 21). O educador exercerá um trabalho mais

intelectual, mais criativo, mais colaborativo e participativo e estará preparado para

interagir e dialogar – junto com seus alunos – com outras realidades fora do mundo da

escola. É esta rede de informações e conexões que torna o ensino não-linear e colabora

para a organização da inteligência coletiva distribuída no espaço e no tempo, como nos

ensina Lévy (1999). Cria-se um coletivo inteligente onde nada é fixo, mas não tem

desordem, pois são coordenados e constantemente avaliados. Interagir neste meio

eqüivale a reconstruir um mundo comum que pensa diferentemente dentro de cada um

de nós, porém contribui para a construção coletiva do saber.

A mudança de paradigma requer um exercício muito intenso por parte da escola

para repensar a dimensão da ‘distribuição do espaço e do tempo’ necessários às

transformações e por parte do professor, refletindo sobre sua prática, porque ela

representa o abrir mão da “certeza” do que se está propondo naquele momento e, acima

de tudo, da crença de que o professor deve conhecer tudo como o grande mestre, o

sábio. Desta visão, passamos para um professor consciente do seu papel de mediador no

processo de construção do conhecimento do aluno. Construção esta que passa pela

interatividade com materiais/recursos e colegas em ambientes de aprendizagem

disponibilizados pelo professor e pela escola moderna.

Queremos frisar, contudo, como argumenta Kenski (1998), que o fato de

vivermos a era digital e enfrentarmos os desafios constantes, oriundos das novas

tecnologias no cotidiano de nossas vidas, não significa que queiramos professores

adeptos incondicionais – ou de oposição radical – ao ambiente eletrônico. Ao contrário,

significa nos apropriarmos de conhecimentos tecnológicos que permitam dominar a

máquina, criticamente, conhecê-la para saber de suas vantagens e desvantagens, riscos e

possibilidades, para poder transformá-la em ferramenta útil, em alguns momentos, e

dispensá-la em outros.

Essa nova proposta pedagógica tem que ser pensada, criticamente, pois

transforma a relação pedagógica ainda em prática, atualmente, ampliando a interação. A

transição do modelo tradicional conteudista para o novo modelo interativo professoraluno-

máquina-tecnologia-conteúdo, não é fácil, apresenta muitas resistências, pois

impõe a quebra de paradigmas e de toda uma formação acadêmica e vivência

profissional. Além disso, requer um preparo do aluno para interagir com o recurso

computacional.

O professor passa da escola centrada nos conhecimentos, onde o Mestre tem

domínio absoluto do que está propondo para uma visão de professor que, ao construir o

conhecimento junto com seus alunos, questiona, duvida, enfrenta conflitos, contradições

e divergências, enriquecendo tais ações pelo apoio na tecnologia.

E será que, mesmo vivendo numa era digital, todos os alunos de uma turma têm

conhecimentos tecnológicos prévios necessários para que aconteça esta interatividade

entre professor – aluno – tecnologia? É uma outra questão que surge ao educador

quando prepara o ambiente de aprendizagem computacional, pois convivemos com as

diferenças.

A adoção de novas tecnologias no ensino não tem um objetivo em si mesma,

mas é um recurso no processo de ensinar e aprender para alcançar os fins educacionais

almejados. Vivemos uma época de grandes transformações. O desenvolvimento

científico gera, entre outros produtos, um enorme avanço na tecnologia e no

conhecimento. Como conseqüência, conhecimento virou tema obrigatório surgindo a

expressão ‘sociedade do conhecimento’ segundo Assmann (1998, p. 24) e também

‘sociedade da informação’.

Enquanto a expressão ‘sociedade da informação’ enfatiza a importância da

tecnologia educacional para a rápida atualização e socialização dos conteúdos, a

‘sociedade do conhecimento’ se refere à aquisição dos conhecimentos através da

interpretação e processamento da informação. Com os recursos da mídia digital,

trazendo novas formas de circulação das informações e a exigência de mais qualidade

na educação, para a inserção no mercado de trabalho, passou-se a questionar a

sociedade da informação – rápida divulgação das informações – para o desenvolvimento

do conceito de sociedade do conhecimento, que exige competência para analisar e

processar essa informação.

Todas essas expressões encaminham para diversas análises dos pressupostos da

educação. Importa, no momento, pensar que tipo de educação queremos? Será que

estamos preparando nossos alunos para enfrentar papéis funcionais nesta nova

economia? Com a competitividade do mercado, teremos empregos? Empregabilidade?

Se precisamos de indivíduos com mais autonomia e competências para se desempenhar

no mercado de trabalho, temos que mudar nossa maneira de ensinar e aprender! Os

alunos precisam interagir com os conhecimentos e auto-organizar-se. Para Assmann, a

educação só alcançará a qualidade desejável quando

gerar experiências de

aprendizagem, criatividade para construir conhecimentos e habilidade para saber

acessar fontes de informação sobre os mais variados assuntos

(p. 21).

O compromisso pedagógico com a utilização da tecnologia


As mudanças por que passa a sociedade exigem um sistema educacional

renovado. O mercado de trabalho precisa de pessoas mais qualificadas, com mais

conhecimento (e não só informação), mas também muito mais criativas, que pensem,

tenham iniciativa, autonomia, domínio de novas tecnologias e competência para

resolver as questões que se apresentam no cotidiano da vida.

Assim, o estabelecimento de um clima organizacional aberto, inovador e

investigativo é atribuição não só do professor, mas de toda escola a qual, valorizando a

invenção e a descoberta, possibilita a aprendizagem sociointerativa. Neste ambiente,

educadores e educandos aprendem a problematizar, conviver com a incerteza e a

divergência e juntos encontrar o caminho.

Nessa perspectiva, espera-se do educador a competência para ser o mediador de

todo processo de construção do conhecimento, com recursos tecnológicos, favorecendo

a interação e a autonomia num clima de cooperação e colaboração, para auxiliar na

construção de um ‘andaime’

, que ajude o aluno no desenvolvimento da zona de

desenvolvimento proximal (ZDP). Essa proposta vygotskyana sustenta que a

aprendizagem se processa num ambiente eminentemente interativo, de natureza social,

no qual o aluno se apropria dos conhecimentos, na interação com seus pares,

intermediado pelo professor. Neste processo dialético, aberto, transparente,

despreconceituoso é que se cria um clima favorável à interação professor – aluno –

máquina – conteúdo – tecnologia – mediações propostas.

Modernamente, quando falamos em interação e interatividade, logo lembramos

do computador – aula com uso da tecnologia – mas queremos focalizar, também, a

necessidade da interação como atuação participativa dos alunos, com ou sem tecnologia

na sala de aula, apesar de sabermos que vivemos uma era tecnológica. O que faz a

diferença é como o professor utilizará esta tecnologia, aproveitando seu potencial para

desenvolver novos projetos educacionais. Isto quer dizer que a diferença didática não

está em usar ou não os recursos tecnológicos, mas no conhecimento de suas

possibilidades, limitações e na

compreensão da lógica que permeia a movimentação

entre os saberes no atual estágio da sociedade tecnológica

(KENSKI, 1998, p. 70).

Igualmente significa que a escola não pode mais ficar fechada em suas próprias

paredes, mas também significa que o aluno, fora da escola, tem acesso à Internet e toda

à mídia e deve aprender a selecionar e distinguir o que é científico ou mera divulgação

sem fundamentação teórica. É uma nova visão de escola, inserida na era tecnológica e

na sociedade digital que

não se caracteriza pela exclusão ou oposição aos modelos

anteriores de aquisição e utilização de conhecimentos armazenados na memória,

humana ou cibernética

(p.67). Sua característica mais significativa é a ampliação de

possibilidades e o envolvimento; marcadamente sua prática socioconstrutiva. Esta

moderna e irreversível tecnologia está afetando o modo de ensinar e de aprender.

Além disso, analisando o impacto que a mídia tem e a forma como a pessoa

processa a informação, concluiríamos pela necessidade de reconceitualizar o ensino e

nossas metodologias. Aí reside a importância do papel do professor: ser insubstituível,

mesmo com o uso da mais moderna tecnologia, sua função é a de organizar o ambiente

de aprendizagem, escolher os recursos e softwares, realizar a intervenção pedagógica,

quando necessária, reorganizar as atividades, ou seja, levar à auto-organização,

interagindo, construindo, junto com os alunos, as situações e simulações.

Nenhum recurso/técnica/ferramenta, por si só, é motivador; depende de como a

proposta é feita e se está adequada ao conteúdo, aos alunos, aos objetivos, enfim, ao

projeto pedagógico da instituição. Estimular e motivar é apresentar um desafio a ser

enfrentado, uma situação-problema a resolver, não um obstáculo intransponível. É

orientando o aluno nos processos de interação e interiorização, num clima estimulador,

que mais facilmente ele compreenderá a si e aos outros, como sugere Moran:


Pela interação entramos em contato com tudo o que nos

rodeia; captamos as mensagens, revelamo-nos e ampliamos a

percepção externa. Mas a compreensão só se completa com a

interiorização, com o processo de síntese pessoal, de reelaboração de

tudo o que captamos por meio da interação (2000, p.25).


Assim, o professor precisa (re)pensar a sua prática pedagógica. Que linha segue?

Que espaço ocupam os alunos nesta prática? Que paradigma educacional encontra

acolhida neste contexto? Como é possível a mudança de modelos pelo professor? Como

o professor alcança isto leva-nos à pergunta: como fazer a passagem do modelo

tradicional de ensino para uma proposta interacionista e/ou sociointeracionista com o

uso das novas tecnologias? Esse tema remete à educação continuada, que leve o

professor a se questionar, refletir sobre sua prática, os conteúdos, a metodologia, os

recursos e, assim, encontrar novos caminhos... Laurrillard (apud KENSKI, 1998, p.68)

apresenta professores e alunos como ‘colaboradores’, utilizando os recursos

multimediáticos em conjunto, para realizarem buscas e trocas de informações, criando

um novo espaço de ensino - aprendizagem em que ambos aprendem.

Hodiernamente, há uma preocupação crescente, em todo o território nacional,

com a informatização das escolas e com a formação de recursos humanos qualificados,

passando a ser este o quesito indispensável para o desenvolvimento. Programas de

formação inicial e continuada e múltiplas possibilidades de atualização existem hoje,

inclusive com a educação a distância, que são pontos fundamentais da

profissionalização docente. Outra proposta é realizar a formação continuada na própria

instituição escolar mediante reflexão compartilhada com toda a equipe, na forma de

grupos de estudo.

Numa sociedade digital e em permanente transformação, o professor deve estar

preparado para capacitar seus alunos a desenvolverem competências para resolver

situações complexas e inesperadas e necessita, também, encarar a si mesmo e a seus

alunos como uma equipe de trabalho com desafios novos e diferenciados a vencer e com

responsabilidades individuais e coletivas a cumprir.

Não há planejamento rígido, regras intransigentes, todavia, não há desordem. Há

necessidade de um bom planejamento para que a tecnologia atinja os efeitos desejados.

Isto significa que há uma adequada escolha dos recursos e softwares, negociação e

estabelecimento de consenso entre os participantes para atender aos interesses de todos,

tendo sempre em vista o objetivo maior comum: aprender.

Dessa forma, o planejamento é participativo e interdisciplinar, as ações são

coordenadas e avaliadas constantemente. Há um processo de reequilibração permanente.

Uma incessante busca do equilíbrio pela interatividade, do prazer de trabalhar em

conjunto, do desejo de aprender.

Concluímos com Leite et al (2000) para reforçar nossas idéias.


Diante desta realidade, torna-se necessário que as escolas passem

a trabalhar visando a formação de cidadãos capazes de lidar, de modo

crítico e criativo, com a tecnologia no seu dia-a-dia. Cabendo à escola

esta função, ela deve utilizar como meio facilitador do processo de

ensino-aprendizagem a própria tecnologia com base nos princípios da

Tecnologia Educacional (p. 40).


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